Saturday, July 29, 2006

Querida Rosa,

Não quero nada. Estou escrevendo para dizer que amo a vida. Estava caminhando ontem, olhando apenas, e rindo, das minhas pernas e dos meus pés. Ao dobrar uma esquina, vi uma rosa vermelha, enorme, vívida. Estava ao alcançe das minhas mãos. Não arranco rosas de jardins. Ela ficou por lá, constratando com a metrópole infinitamente severa com os que querem viver bem. O vôo circular das abelhinhas ao redor da rosa me deixou em paz-ingênua. Lembrei dos seus lábios vermelhos-sem-batom.
Rosa, não possuo mais relógio. Tenho um par de sandálias de couro e uma sapato preto para as épocas de chuva e muito frio. Detesto guarda-chuva. Não desejo a glória, aliás, repudio a glória. Você ainda guarda aquele prato de bambu? Ainda guarda poemas que escrevi e nunca li? Tem o meu rosto em sua memória?No início falei que ria das minhas pernas e pés, é porque eles irão virar pó. Augusto dos Anjos, aquele poeta que tinha um pé de tamarindo no quintal, é cômico. A desgraça é uma criança tola que não sabe fazer nada sozinha. Ri demais e alguns passantes ficaram pensando, acho que isso: "esse cara é louco". Não tenho compromissos com a desgraça, com a dor, com a injustiça e com a mentira.
Estou preparando minha mala pequena. Estou indo. Por favor, prepare minha cama com aquele lençol azul claro. Só quero deixar o brilho da simplicidade que exala do seu olhar exilar-se pra sempre no meu coração. Estarei como uma abelhinha ao seu redor, vivenciando o néctar de sua quietude, de sua paz e simplicidade. Mas não a quero. Abraços.

Geraldo Magela Matias

1 comment:

Unknown said...

Belo e comovente texto. Lembrou-me Rubem Braga. Ombreias com os grandes.