Saturday, July 29, 2006

Querida Rosa,

Não quero nada. Estou escrevendo para dizer que amo a vida. Estava caminhando ontem, olhando apenas, e rindo, das minhas pernas e dos meus pés. Ao dobrar uma esquina, vi uma rosa vermelha, enorme, vívida. Estava ao alcançe das minhas mãos. Não arranco rosas de jardins. Ela ficou por lá, constratando com a metrópole infinitamente severa com os que querem viver bem. O vôo circular das abelhinhas ao redor da rosa me deixou em paz-ingênua. Lembrei dos seus lábios vermelhos-sem-batom.
Rosa, não possuo mais relógio. Tenho um par de sandálias de couro e uma sapato preto para as épocas de chuva e muito frio. Detesto guarda-chuva. Não desejo a glória, aliás, repudio a glória. Você ainda guarda aquele prato de bambu? Ainda guarda poemas que escrevi e nunca li? Tem o meu rosto em sua memória?No início falei que ria das minhas pernas e pés, é porque eles irão virar pó. Augusto dos Anjos, aquele poeta que tinha um pé de tamarindo no quintal, é cômico. A desgraça é uma criança tola que não sabe fazer nada sozinha. Ri demais e alguns passantes ficaram pensando, acho que isso: "esse cara é louco". Não tenho compromissos com a desgraça, com a dor, com a injustiça e com a mentira.
Estou preparando minha mala pequena. Estou indo. Por favor, prepare minha cama com aquele lençol azul claro. Só quero deixar o brilho da simplicidade que exala do seu olhar exilar-se pra sempre no meu coração. Estarei como uma abelhinha ao seu redor, vivenciando o néctar de sua quietude, de sua paz e simplicidade. Mas não a quero. Abraços.

Geraldo Magela Matias

ELE PASSARINHO


"Eles passarão, eu passarinho". Quintana foi embora no dia 5 de maio de 1994. O homem que usava passarinhos como alegoria (ou metáfora?). A primeira vez que li Quintana, morava numa casa com enorme quintal. Travei batalhas, fiz teatro, corri atrás de passarinhos no quintal que parecia uma síntese de mundo - ledo engano. Estava lendo Quintana quando beijei pela primeira vez. Ao invés de passarinhos, passei a procurar flores no quintal. Tenho certeza de que alguns pássaros levaram sementes dessas flores para outros cantos de jardins. Quintana não morreu, ficou encantado. E fui ser gauche na vida. Saí por aí recolhendo pétalas que Quintana deixava cair pelos caminhos. Nada de pedras. Apenas pássaros e flores.



Canção do Amor Imprevisto - Mario Quintana

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoista e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos…
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
[nada, numa alegria atônita…
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!



In: Mario Quintana - Canções - Editora do Globo, 1946

Friday, July 28, 2006

VENDEDOR DE LANCHES

Venho bisbilhotando neste espaço a pouquinho tempo. O Bastante pra perceber que quero estar mais perto. Na verdade eu queria mesmo era entender a tristeza do Geraldo. Aprender a contar o tempo pelo relógio dele. Descobrir a verdadeira dimensão do riso que me intimida e se arremata com um simples: "Eu sou assim".Talvez eu só perceba a simplicidade daquela mente travando uma convivência lenta, silenciosa. Pode ser que nunca consiga de fato.Não sei bem o que vi, nem sei se concordo com minha intuição, mas tenho uma certeza. Poderia ser em qualquer lugar, conhecê-lo noutras circunstâncias... Poderia até ver o Geraldo vendendo lanche na praia... Algo em mim ainda diria - esse é um homem especial." (Márcia Nestardo é atriz)

OBRIGADO, RENATA.

Geraldo, meu recém-amigo desconhecido. O filósofo e jornalista que eu sempre quis ser e não fui e não sou. Nos conhecemos por aqui, nesse mundo impalpável, surreal, escorregadio. Então, de fato, não nos conhecemos. Mas é claro que pelo menos eu te conheço! Encantei-me com o que surgiu da tela fria, fugindo sorrateiramente do meio do turbilhão indefinível. Achado numa brincadeira, numa pescaria. Conheci você pelas suas palavras. Você foi sendo revelado pela ligação que fez com elas, tantas entendiamente soltas, e repentinamente escolhidas por você... Aninhei-me no sentido que fez delas, no mundo que construiu com elas. Um mundo tão delicioso e tão diverso do meu. Mas não sei quem é você, por detrás das palavras. Quem é o Geraldo ininteligível. Talvez eu permaneça nesse Geraldo que é o mito, lido e relido pela boca dos outros, transcrito pelos seus lugares-comuns. Eu, apesar de mergulhar nesse mundo mitológico, continuo não entendendo nada de mitologia, até agora. Confesso, entrei na ilusão que te cerca e no universo em que representas esse mito. Sim, estarei sempre por perto, descobrindo o sentido das coisas com você. Agora deixa eu sentar e tomar meu café, obrigada pela gentileza do convite.De sua fã, número 1 de hoje,Renata Maria.

Thursday, July 27, 2006

MINEIROTAURO

Confesso que nada sei sobre mitologia, nenhuma delas, infelizmente. Nem tenho na minha estante livros de citações em latim para deixar leitores com a impressão de que jornalistas são "cultos" e "estão por dentro de tudo". Verdade que ando lendo muito sobre Wicca, feitiçaria e feminização e nem sei aonde essas leituras vão me levar. Talvez, com muita serenidade, admito que sou um argonauta anárquico que crê ser um Sísifo da Silva. Quero apenas partilhar espantos, espasmos, indignações, alegrias e angústias. Mesa de bar, esquina, um banco na praça, no ponto do ônibus, na calçada, tomando um café podem ser metáforas para configurar a imagem exata do que será esse blog. Nada além, nada aquém. (Geraldo Magela Matias)

BIOGRAFIA DO BLOGUEIRO

O Geraldo continua o mesmo. Frase feita das mais feitas que já vi, incrível como exprime bem a realidade. Por que o Geraldo é uma rocha, estático nos seus princípios ao mesmo tempo em que maleável na superficialidade de sua retórica alucinada.Na superfície, Geraldo é amoral. Quer apavorar as dóceis menininhas, quer engabelar a esquerda corporativista, foder com as minorias e tudo mais. Um niilismo avassalador, como o de alguém sem princípios. É tudo uma mentira. Geraldo é daqueles mineiros interioranos, que não te deixam ir embora sem oferecer uma xícara de café. Humano pra caralho e sedutor como poucos, olhar rápido e atento sobre as nossas arestas humanas. Ácido quando se faz necessária acidez, professor estúpido que não liga muito para as vaidades dos alunos mais arrogantes. Ou os superprotegidos pelo seu ego.Geraldo voou...alcançou a iluminação. No topo da montanha, não viu nada. Carrega com amargor o vazio de um nada gigantesco, um nada tão intenso e palpável que lhe atordoa, percepção elevada um tanto quanto distante dos meros mortais. Geraldo ri um riso triste, tristeza de uma utopia.Utopia de um mundo de verdade. Um mundo de humanidade. Sem atravessadores. Um mundo de mesa de bar com amigos, mundo de sensibilidade e reação às idéias, tornadas mais importantes que as posses. Um mundo de verdadeiros irmãos se digladiando com pureza na busca da verdade. Geraldo é moralista, na verdade.Geraldo é ingênuo. Uma criança que sofre. Monstro intelectual, mestre dos atalhos e das coisas da vida, Geraldo vive meio perdido, parece. Sangrando, o tempo todo, de um jeito que a gente sangra só às vezes, nos nossos momentos mais iluminados de reflexão existencial.E eu que pensava que eu era o Geraldo. Mas o Geraldo é muito mais eu que eu mesmo. Já invadiu muito mais salas, internas e externas, mijou muito mais sangue que eu, conquistou territórios e aproximou-se de objetivos, perdeu tudo, ganhou de novo. Fez tudo isso muito mais vezes que eu, e continua vivo como eu nunca imaginei que fosse possível alguém fazer.As palavras medidas com régua, a ironia com um garçom psicopata neo-nazista, os planos mirabolantes jogados ao vento, tudo um conjunto imagético pré-fabricado, como a testar teu vôo e teu raciocínio. Um encontro de muito sentimento, de um cara meio sozinho de adversários intelectuais e camaradas do peito, mas que não exclui a obrigação de uma boa e velha contenda.Não se enganem, Geraldo sabe as regras do jogo. Sabe onde está o dinheiro e a realização material/profissional. Só não sabe o que fará para se despojar do seu eu, para poder consegui-lo. No meio do caminho, fica em dúvida se inclusive quer isso. Ao contrário de muita gente que eu conheço, Geraldo daria uma péssima puta.(André Montanher)