Querida Rosa,
Não quero nada. Estou escrevendo para dizer que amo a vida. Estava caminhando ontem, olhando apenas, e rindo, das minhas pernas e dos meus pés. Ao dobrar uma esquina, vi uma rosa vermelha, enorme, vívida. Estava ao alcançe das minhas mãos. Não arranco rosas de jardins. Ela ficou por lá, constratando com a metrópole infinitamente severa com os que querem viver bem. O vôo circular das abelhinhas ao redor da rosa me deixou em paz-ingênua. Lembrei dos seus lábios vermelhos-sem-batom.
Rosa, não possuo mais relógio. Tenho um par de sandálias de couro e uma sapato preto para as épocas de chuva e muito frio. Detesto guarda-chuva. Não desejo a glória, aliás, repudio a glória. Você ainda guarda aquele prato de bambu? Ainda guarda poemas que escrevi e nunca li? Tem o meu rosto em sua memória?No início falei que ria das minhas pernas e pés, é porque eles irão virar pó. Augusto dos Anjos, aquele poeta que tinha um pé de tamarindo no quintal, é cômico. A desgraça é uma criança tola que não sabe fazer nada sozinha. Ri demais e alguns passantes ficaram pensando, acho que isso: "esse cara é louco". Não tenho compromissos com a desgraça, com a dor, com a injustiça e com a mentira.
Estou preparando minha mala pequena. Estou indo. Por favor, prepare minha cama com aquele lençol azul claro. Só quero deixar o brilho da simplicidade que exala do seu olhar exilar-se pra sempre no meu coração. Estarei como uma abelhinha ao seu redor, vivenciando o néctar de sua quietude, de sua paz e simplicidade. Mas não a quero. Abraços.
Geraldo Magela Matias
Saturday, July 29, 2006
ELE PASSARINHO

"Eles passarão, eu passarinho". Quintana foi embora no dia 5 de maio de 1994. O homem que usava passarinhos como alegoria (ou metáfora?). A primeira vez que li Quintana, morava numa casa com enorme quintal. Travei batalhas, fiz teatro, corri atrás de passarinhos no quintal que parecia uma síntese de mundo - ledo engano. Estava lendo Quintana quando beijei pela primeira vez. Ao invés de passarinhos, passei a procurar flores no quintal. Tenho certeza de que alguns pássaros levaram sementes dessas flores para outros cantos de jardins. Quintana não morreu, ficou encantado. E fui ser gauche na vida. Saí por aí recolhendo pétalas que Quintana deixava cair pelos caminhos. Nada de pedras. Apenas pássaros e flores.
Canção do Amor Imprevisto - Mario Quintana
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoista e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos…
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
[nada, numa alegria atônita…
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
In: Mario Quintana - Canções - Editora do Globo, 1946
Friday, July 28, 2006
VENDEDOR DE LANCHES
Venho bisbilhotando neste espaço a pouquinho tempo. O Bastante pra perceber que quero estar mais perto. Na verdade eu queria mesmo era entender a tristeza do Geraldo. Aprender a contar o tempo pelo relógio dele. Descobrir a verdadeira dimensão do riso que me intimida e se arremata com um simples: "Eu sou assim".Talvez eu só perceba a simplicidade daquela mente travando uma convivência lenta, silenciosa. Pode ser que nunca consiga de fato.Não sei bem o que vi, nem sei se concordo com minha intuição, mas tenho uma certeza. Poderia ser em qualquer lugar, conhecê-lo noutras circunstâncias... Poderia até ver o Geraldo vendendo lanche na praia... Algo em mim ainda diria - esse é um homem especial." (Márcia Nestardo é atriz)
OBRIGADO, RENATA.
Geraldo, meu recém-amigo desconhecido. O filósofo e jornalista que eu sempre quis ser e não fui e não sou. Nos conhecemos por aqui, nesse mundo impalpável, surreal, escorregadio. Então, de fato, não nos conhecemos. Mas é claro que pelo menos eu te conheço! Encantei-me com o que surgiu da tela fria, fugindo sorrateiramente do meio do turbilhão indefinível. Achado numa brincadeira, numa pescaria. Conheci você pelas suas palavras. Você foi sendo revelado pela ligação que fez com elas, tantas entendiamente soltas, e repentinamente escolhidas por você... Aninhei-me no sentido que fez delas, no mundo que construiu com elas. Um mundo tão delicioso e tão diverso do meu. Mas não sei quem é você, por detrás das palavras. Quem é o Geraldo ininteligível. Talvez eu permaneça nesse Geraldo que é o mito, lido e relido pela boca dos outros, transcrito pelos seus lugares-comuns. Eu, apesar de mergulhar nesse mundo mitológico, continuo não entendendo nada de mitologia, até agora. Confesso, entrei na ilusão que te cerca e no universo em que representas esse mito. Sim, estarei sempre por perto, descobrindo o sentido das coisas com você. Agora deixa eu sentar e tomar meu café, obrigada pela gentileza do convite.De sua fã, número 1 de hoje,Renata Maria.
Thursday, July 27, 2006
MINEIROTAURO

BIOGRAFIA DO BLOGUEIRO

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